Biotecnologias de reprodução ovina: quais são as mais usadas pelos criadores?

Transferência de Embriões, Fertilização In Vitro e Inseminação Artificial por Laparoscopia estão entre as técnicas mais utilizadas pelos criadores da raça Dorper e White Dorper visando o melhoramento genético de seus rebanhos

A fim de se obter rentabilidade e produtividade na criação das raças Dorper e White Dorper, os criadores precisam direcionar sua atenção a um fator determinante: a reprodução. Dessa forma, precisam investir em biotecnologias de reprodução que possibilitem a melhoria nos indicadores técnicos do rebanho, sem deixar de lado o fator econômico da atividade.

Por conta disso, anteriormente, a equipe de reportagem da ABCDorper preparou reportagens com médicos veterinários especializados que explicaram as principais biotecnologias de reprodução ovina utilizadas atualmente pelos criadores. Assim, você pode conhecer como cada uma delas funciona, na teoria, bem como suas vantagens e desvantagens.

Desta vez, a ideia é expor a opinião dos próprios criadores, para que você saiba na prática qual é a técnica preferida por eles. Para isso, conversamos com quatro criadores, dois representantes da região Sudeste, um do Centro-Oeste e, ainda, um do Nordeste. A seguir, você confere a preferência de cada um deles quando o assunto é reprodução. Confira!

Cabanha Luxor, de Monte Mor/SP

A titular da Cabanha Luxor, de Monte Mor/SP, e médica veterinária Carolina Martins Caretta conta que, atualmente, está focada no melhoramento do rebanho e na propagação do que tem de melhor. Para isso, está usando a FIV como carro chefe da cabanha, por conta de três motivos. São eles:

“1) é a facilidade, pois compartilhamos o mesmo sítio onde está situada a Embryoplus Brasil, empresa que trabalha com biotecnologia reprodutiva de ruminantes. 2) é de cunho econômico, pois a FIV me permite o uso de protocolos mais baratos e mais flexíveis, posso aspirar a mesma ovelha a cada um mês, o tempo de adaptação de um animal para iniciar o processo de FIV é menor e a FIV me permite propagar uma genética desejada de forma precoce, pois pode ser realizada em cordeiras a partir de 3 meses”.

E, por fim, acrescenta: “3) é de ordem pessoal. Quando vemos a história dos bovinos no âmbito do desenvolvimento de biotecnologias reprodutivas, percebemos que todos os questionamentos, que são naturais e pertinentes, na questão da OPU são os mesmos que temos em relação a LOPU. No entanto, os criadores investiram na técnica, ajudaram a consolida-la e torná-la o carro chefe do Brasil. Aí me questiono, por que não podemos fazer isso com os pequenos ruminantes? Por que fazer uso de técnicas mais caras, mais invasivas e de protocolos restritos? O Brasil consome 400g anuais de carne ovina per capta. Temos muito potencial para ampliar nossas produções”, questiona.

Com relação aos resultados obtidos com a FIV até hoje, Carolina conta que no início não foi fácil. Afinal, teve que fazer muitos ajustes. “Por não ser uma técnica consolidada, como de bovinos, tivemos que ajustar meios, testar protocolos ou até mesmo a ausência deles, mexemos na parte nutricional e identificamos os indivíduos mais promissores. Foram muitos erros e muitos acertos ao longo de um ano de ajustes e testes, mas hoje falo de forma orgulhosa que estou satisfeita! Os cordeiros nascidos são perfeitamente saudáveis, como cordeiros nascidos de forma natural, IA ou TE”.

Já se tratando dos custos, a criadora e médica veterinária lembra que com a FIV são muito mais baixos, começando pelo próprio protocolo dos animais. “E quando falamos em resultado, basta pensar que um animal em vez de ser coletado a cada 3 meses, ele pode ser aspirado a cada um mês, com o mesmo potencial de produção”, finaliza.

FG Lamb, de Garanhuns/PE

Fernando Costa, proprietário da FG LAMB, de Garanhuns/PE, vem investindo cada vez mais em Biotecnologia de Reprodução. A crescente procura por animais da raça Dorper devido sua precocidade para o abate, ou também como melhorador de carcaça em cruzamentos com outras raças, o levou a iniciar o trabalho de IA (inseminação artificial) e TE (transferências de embriões).

“Sobre a IA, nos dá a possibilidade de utilizar sêmen de carneiros de fora da Cabanha, tendo em vista que existem excelentes reprodutores por todo o Brasil e nem sempre o reprodutor que uma Cabanha tem em casa atende a necessidade para o melhoramento no acasalamento que a ovelhas precisam. Às vezes, queremos melhorar a feminilidade das crias da ovelha em questão ou queremos utilizar uma família sanguínea da ovelha onde nosso carneiro é de outra família. Ou até mesmo ter um filho de um grande campeão, como foi o caso da procura pelo sêmen de um carneiro nosso que foi classificado em 2020 como Grande Campeão da Raça na Expoagro de Salvador. Sem falar que com a IA conseguimos programar um nascimento simultâneo de vários animais, facilitando assim o manejo para apartação”, explica Costa.

Já sobre a TE, o criador pernambucano conta que na FG LAMB ele mantém dois olhares para esse procedimento. “1) Conseguir com que uma ovelha de boa classificação em vez de parir 1 ou 2 animais em um acasalamento ou IA, venha na TE nos ofertar de 2 a 15 nascimentos em um momento gestacional. 2)Fazer escala; se pensarmos nos custos em fazer uma TE aparentemente para ser alto. Mas se pensarmos a médio prazo é bem mais barato do que comprar o animal pronto”.

Para exemplificar, Costa cita uma situação que pode ocorrer: “Caso eu precise de 50 ovelhas futuras matrizes para aumentar o rebanho. Se formos comprar esses animais teríamos um custo aproximado de R$ 4.500,00 por animal na faixa de 10 meses de idade, à um investimento total de R$ 225.000,00. Nessa mesma linha de pensamento em vez de comprar os animais, fazer uma TE. Hoje temo um custo já calculado incluindo (a receptora, protocolo, profissional para fazer o procedimento, alimentação das receptoras e depois das crias até chegar aos 10 meses). Esse mesmo animal que eu pagaria por ele com 10 meses de idade R$4.500,00 me custaria produzindo em casa via TE R$ 2.200,00 cada animal totalizando para os 50 animais produzidos R$ 110.000,00. A nosso olhar é bem mais barato fazer TE para aumentar o rebanho”, explica.

Sobre os resultados conquistados através das biotecnologias de reprodução na LG Lamb, Fernando conta que com a IA conseguiu obter 75 % de confirmação de prenhes. Já com a TE teve um resultado médio por doadora de 8 embriões coletados e uma confirmação de prenhes na casa dos 75%.

Cabanha Kaiowas, de Itapetininga/SP

Márcio Cordeiro, titular da Cabanha Kaiowas, de Itapetininga/SP, conta que atualmente utiliza em seu plantel Inseminação Artificial e Transferência de Embriões, além de implantação de Embriões congelados. Sobretudo, porque são técnicas que lhe permite utilizar reprodutores de outras cabanhas, reprodutores já desaparecidos, e também aumentar a quantidade de produtos filhos de doadoras com produção já comprovada.

Ainda de acordo com ele, os resultados variam de acordo com diversos detalhes que envolvem o manejo, a qualidade das doadoras (que possuem uma classificação rigorosa em na Cabanha Kaiowas), época do ano e variação climática. “O custo é alto, porém traz retorno se os acasalamentos são feitos com sucesso, e se as doadoras responderem bem ao protocolo. Caso o resultado final do trabalho não seja de sucesso (tanto em número de embriões produzidos, quantidade de prenhezes ou qualidade dos produtos nascidos), logicamente o custo aumenta”, explica Cordeiro.

E ele ainda acrescenta: “Uma vez que utilizamos doadoras que possuem produção comprovada, o alto custo compensa, já que aumentamos a quantidade de produtos desta doadora num curto espaço de tempo”. Para o futuro, os planos são voltar a investir em outra biotecnologia disponível no mercado. “Já fizemos FIV no passado e estudamos voltar a fazer em breve. Estamos buscando mais informações e avaliando custos X resultados”.

Dorper Novo Prado, de Ocidental/GO

Guilherme Tapajós Távora, da Dorper Novo Prado, situada na Ocidental/GO, conta que entre as biotecnologias de reprodução existem, ele usa IATF, Transferência de Embriões e FIV. “Acreditamos que as técnicas de reprodução facilitam a utilização de determinados reprodutores, vivos ou desaparecidos, com qualidades que desejamos inserir em determinadas fêmeas. Além disso, podemos concentrar acasalamentos/nascimentos, o que facilita os manejos dos grupos de fêmeas prenhez/paridas, além de possibilitar o acompanhamento de partos”.

O criador conta ainda que optou por congelar parte dos embriões coletados, mesmo cientes do decréscimo na taxa de prenhez nestes casos. “Aqui na Novo Prado as famílias maternas são extremamente relevantes para o nosso programa de criação. Os embriões congelados das fêmeas testadas e aprovadas como doadoras permite que as linhas de sangue escolhidas possam ser trabalhadas por mais tempo, com mais critério. Isto, no nosso sentir, aumenta a consistência genética e confere uma identidade aos produtos Novo Prado”, frisa.

Como pudemos perceber, no Dorper Novo Prado, é praticado um constante exercício de teste de fêmeas que poderão se tornar pilares do plantel a partir dos resultados obtidos por suas filhas, que também passam pela peneira para doadoras. “Hoje podemos dizer que já temos cerca de 4 famílias maternas definidas como pilares da Novo Prado, mas não deixamos de testar novas fêmeas às quais temos alcance, principalmente por meio de parcerias que mantemos com outros amigos criadores”.

Com relação aos custos ao se aplicar as biotecnologias, Guilherme admite que têm sido altos. “Os insumos subiram muito de preço; a mão de obra tem que ser muito boa, desde os cuidados com o protocolo das doadoras, com a gestação e parto das receptoras, até os nascimentos e recria dos produtos. E o produtor tem que ter um conhecimento mínimo do padrão racial para poder avaliar quais produtos poderão (ou não) ser selecionados para permanecer no rebanho e quais devem ser “descartados”. Não é porque os animais nascem de transferência de embriões ou de aspiração que se tornam especiais”, analisa.

Contudo, apesar dos altos custos, o titular do Dorper Novo Prado garante que os resultados compensam o investimento quando o produtor acerta a mão no cruzamento e quando faz a cria e a recria com êxito. “Caso contrário, o custo dos procedimentos se torna oneroso. Trabalhar com biotecnologia de reprodução faz sentido quando o produtor tenta melhorar o bom. Multiplicar o comum não é bom nem para o produtor, tampouco para a raça”, finaliza Tapajós.

Facebook: ABCDorper | Instagram: @abcdorper | Site: abcdorper.com.br

Por Natália de Oliveira/Assessoria de Imprensa Agrovenki
Crédito da foto em destaque: Arquivo pessoal/Carolina Ceretta

Leia outras notícias no site da ABCDorper