Entenda a importância da padronização dos julgamentos para a evolução do Dorper e do White Dorper

Para tanto, é imprescindível que as exposições das raças contratem jurados pertencentes ao colegiado da ABCDorper a fim de garantir um bom e justo trabalho de classificação

Quando o assunto é a busca pela evolução das raças Dorper e White Dorper no Brasil um dos principais temas levantados, entre criadores e membros da Associação Brasileira de Criadores de Dorper (ABCDorper), é a importância da padronização dos julgamentos durante as exposições das raças. Afinal, as exposições de animais fazem parte do trabalho de criação e seleção dos rebanhos de plantel, objetivando a reprodução e melhoramento, bem como a comercialização de reprodutores e matrizes.

Sendo assim, dentro das exposições, as provas de classificação identificam os melhores animais e as características ideias em cada raça para manter em evolução os próprios plantéis e os rebanhos comerciais. Ou seja, os julgamentos de classificação dos animais nos eventos estão inseridos, com significativa importância, na cadeia de produção da ovinocultura.

De acordo com o zootecnista Márcio Armando Gomes de Oliveira, que é também inspetor técnico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO) e coordenador da Colégio de Jurados das Raças Ovina (CJRO), a forma de avaliação comparativa dos animais é a usual desde os primórdios da domesticação. E, embora seja subjetiva, ela fornece subsídios para que seja feita a seleção dos rebanhos, mantendo-se os melhores e eliminando aqueles que apresentam fenótipos indesejáveis.

“Sem querer comparar as avaliações subjetivas e objetivas, preferimos dizer que elas têm o mesmo valor e se complementam. Mas, as avaliações fenotípicas são, na prática, as mais usadas e podemos afirmar que a evolução das criações, principalmente ruminantes em todo o mundo, se deve a ela”, explica Oliveira.

Portanto, assim como em outras espécies de produção, os colegiados de jurados também surgiram, há não muito tempo, na ovinocultura. No Brasil, o CJRO foi criado em 12 de janeiro de 2010, aprovado pelo CDT da ARCO (Conselho Deliberativo Técnico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos) e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

“Este colegiado, formado por jurados efetivos e auxiliares, é administrado por um Coordenador e um Coordenador Adjunto e é supervisionado pela Superintendência do Serviço de Registro Genealógico de Ovinos da ARCO – SRGO. Cada associação promocional de raça pode formar seu quadro de jurados, mediante as exigências e protocolos estabelecidos pelo CJRO e ARCO”.

Dessa forma, é imprescindível que as exposições das raças contratem jurados pertencentes ao quadro da raça a fim de garantir um bom e justo trabalho de classificação. “Estes técnicos foram aprovados e credenciados pela própria associação promocional, a partir cursos, treinamentos e experiências”, ressalta o zootecnista Márcio Armando Gomes de Oliveira.

O engenheiro agrônomo Giancarlo Antoni, que é inspetor técnico de registro da ARCO e da Associação Paulista de Criadores de Ovinos (ASPACO), bem como membro da Diretoria Técnica do Conselho Deliberativo Técnico da ABCDorper, desde a sua fundação, também reforça a necessidade de se ter profissionais adequados para os julgamentos. “Somente jurados capacitados, que tenham passado no curso Júnior e nos cursos Sêniors, que conheçam o stand racial originário da África do Sul, onde nasceram as duas raças, tem condições de fazer um julgamento técnico, imparcial e correto”.

Membro do CDT da ABCDoper, o médico veterinário Wilson Gomes Braga Júnior ainda frisa. “Os jurados da ABCDorper tem mais conhecimento sobre a raça. Se qualificam anualmente com cursos e provas realizadas por jurados africanos desde 2010. Alguns jurados não conseguem identificar problemas graves de alta transmissibilidade e que podem prejudicar os selecionadores e produtores de carne q venham comprar animais para serem usados nos rebanhos comerciais”.

Exposições sem jurados credenciados

Márcio Armando Gomes de Oliveira segue explicando que o julgamento de classificação dos animais faz parte da ezoognósia que, trata-se do ramo da zootecnia que estuda o exterior dos animais domésticos. Este estudo ou avaliação exige conhecimentos de anatomia, fisiologia, mecânica, patologia e nutrição, além do conhecimento profundo do padrão racial.

“Por isso, os quadros de jurados são formados por profissionais com graduação em Eng. Agronômica, Medicina Veterinária e Zootecnia. Além dos conhecimentos acima, que definem uma classificação em loco, o jurado, de caráter e comportamentos éticos já reconhecidos para fazer parte do quadro, deve seguir um protocolo de procedimentos, obedecer os regulamentos, ser empático, ter boas dicção e didática, entre outros, e lembrar, sempre, que sua soberana decisão deve servir de orientação aos que acompanham, principalmente, aos criadores.”

Quando as associações promocionais de raça promovem os cursos de formação ou atualização dos quadros de jurados, todos os requisitos citados acima são levados em consideração. Inclusive, por orientação de seus conselhos e diretorias técnicas, aqueles que devem ser priorizados na avaliação zootécnica no tocante às exigências do mercado consumidor. “Os padrões raciais são estabelecidos pelas associações da raça no país de origem. Portanto, no Brasil, segue-se o padrão sul-africano de classificação para as raças Dorper e White Dorper desde que foram homologadas pela ARCO e MAPA”, explica o zootecnista.

Mesmo assim, os erros de classificação referentes à padrão racial são vistas com frequências nas pistas de Dorper e White Dorper em todo país. Sobretudo, a maioria nos eventos não oficializados e com jurados não credenciados. “Estas falhas são as que impactam, mas, é preciso considerar todas as etapas do trabalho de julgamento e, neste caso, observa-se justificativas inadequadas, orientações errôneas e uso de palavras e expressões não esclarecedoras por não compactuarem com a linguagem zootécnica”.

Sobre as exposições sem jurados credenciados, Giancarlos ainda acrescenta: “Tem ocorrido alguns erros nos resultados, muitos desses erros apenas por falta do conhecimento básico do stand racial, e outras vezes por conceitos equivocados, de quais são as características de funcionalidade mais importantes. Algumas vezes animais Tipo 3 foram premiados na frente de animais Tipo 4 ou 5. Tivemos ainda, animais fora do stand racial mínimo para participar de um julgamento. Erros que poderiam ter sido evitados no julgamento de admissão ou mesmo pelos inspetores técnicos de registro na propriedade do criador”.

O que os criadores pensam a respeito

Para o criador Luiz Teixeira, da Buriá Dorper, a presença de jurados credenciados nas exposições é, de fato, vital para o crescimento e alinhamento dos julgamentos. Tanto que ele lembra que nos anos 2000, realmente era muito difícil participar de exposições. “Era uma gangorra de julgamentos sem fim. A gente já se arrepiava quando sabia que vinham certos jurados, porque sabíamos que vinha pedrada. Tudo contrário do que a gente sabia que era certo”.

Contudo, ele levanta um outro ponto importante em meio a esse assunto. A de que nenhum criador deve “sair” da linha de raciocínio por causa de julgamento desde que tenha conhecimento de onde quer que sua seleção Dorper chegue e que ela esteja alinhada com o stand da raça sul-africana. “Um criador, um selecionador, não deve se apegar a um julgamento. É uma situação que ele deve entender como normal. Não pode sair do seu aprumo, da sua seleção, de onde quer ir. Para isso, ele precisa conhecer a raça que cria, participando de cursos, enxergar o que deve ser melhorado no rebanho. Para não querer jogar pedra no jurado que corretamente pontua alguns pontos como negativo”.

E ainda acrescenta: “Faz parte julgamentos bons e ruins dentro do seu rebanho. Cabe a nós, criadores, fazermos a seleção daquilo que queremos melhorar para os nossos clientes, para a raça, para produção de carne. Para ser uma raça que ande bem que seja prolifera, de uma boa boca pra comer. Uma raça que converta bem, que tenha um bom barril, com maior quantidade de carnes nobres. Esses são os desejos de uma raça de carne que se faz necessária a seleção, para que isso se aplique na atividade privada e resulte na produção de carne fruto de uma seleção da genética”.

Roberta Simões, proprietária do Rebanho Dorper SMelo, diz que há muito tempo acompanha julgamentos no Nordeste e via muita coisa errada antes de se tornar associada da ABCDorper. “Foi aí que fiz um curso ministrado pela Associação e fui a fundo nos padrões raciais para ter respaldo de reclamar. Fiz uma seleção diante do meu plantel, e daí comecei a ganhar espaço nas exposições, principalmente nas que meus animais eram julgados pelos juízes do quadro da ABCDorper”.

Após adquirir conhecimento sobre o stand racial, Roberta diz que não faz sentido participar de eventos que não priorizem a contratação de jurados credenciados. “Como um juiz que não entende os padrões raciais a fundo pode julgar uma raça? Por isso, parei de participar dessas exposições sem árbitros credenciados para não ser penalizada. Temos uma raça forte para ser valorizada e sair estampada na mídia a importância de juízes capacitados”, finaliza a criadora.

Investimento que vale a pena!

Mesmo diante de tantos motivos claros citados nesta reportagem, ainda há aquelas exposições que, por causa do custo, deixam de contratar jurados pertencentes ao Colégio da ABCDorper. Neste caso, iremos citar ainda mais dois grandes problemas que, de modo geral, são ocasionados por um ruim ou inadequado trabalho de julgamento de classificação de animais em uma exposição.

Para tanto, é dada a palavra novamente para o zootecnista Márcio Armando Gomes de Oliveira. “O primeiro relaciona-se ao prejuízo que a raça em si pode sofrer com uma referência errada do que são bons animais e, muitas vezes, levando a seleção de defeitos ou características indesejáveis aos plantéis por má orientação no julgamento. O segundo, é o prejuízo subsequente aos promotores de eventos, já que os criadores passam a boicotar aqueles que contaram com baixa qualidade dos animais e do trabalho de classificação.”

Sendo assim, oficializar o evento perante à ARCO e contratar jurados credenciados atraem mais criadores com, inclusive, melhor nível zootécnico dos animais. Mas, conta-se com maiores custos, o que, hoje, leva-se muito em consideração na realização das exposições. “Lembremo-nos que muitos trabalhos de julgamento são ruins não em função de possíveis erros de classificação por parte dos jurados, mas, pelo baixo nível zootécnico dos animais, sendo que o julgamento é comparativo”.

Mas como convencer os promotores de eventos que o investimento vale a pena? O engenheiro agrônomo Giancarlo Antoni explica: “Basta ver a insatisfação dos criadores que conhecem o stand racial, e observar como os resultados são caóticos, dependendo do julgamento ser efetuado por jurados capacitados ou por jurados que não passaram pelos cursos promovidos pela ABCDorper. Por exemplo, sobre o padrão de cor e pigmentação, onde tem muitos detalhes a serem observados, muitas vezes, bons animais são discriminados erroneamente, mesmo estando perfeitamente enquadrados no stand racial”.

A fim de selecionar tais problemas, o zootecnista Márcio Armando Gomes de Oliveira acredita que um conjunto de ações por parte da associação promocional de raças e dos eventos promotores de exposições é fundamental. Entre estas ações estão os cursos preparatórios e de atualização dos quadros de jurados; a valorização dos técnicos credenciados, contratando-os para os eventos; e cursos de orientação para os criadores com o objetivo de esclarecer sobre a dinâmica dos julgamentos.

“Para finalizar, gostaria de colocar que a avaliação fenotípica começa na cabanha, quando o criador promove os acasalamentos, trata do desenvolvimento dos produtos e, com os recursos que lhe são possíveis, seleciona os indivíduos que vai levar para a exposição, que vai segurar para uso, que vai vender ou que vai descartar. O julgamento em pista trata-se de um ajuste mais fino, já que estará se comparando indivíduos de vários plantéis e por um profissional que possui mais alguns recursos para se efetivar boa seleção”.

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Por Natália de Oliveira/Agrovenki
Crédito da foto em destaque: Divulgação
/ASPACO

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